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O teste de QI e a psicometria: a importânciae os limites da área mais estudada da psicologia

  • Hugo Moacir Ribeiro
  • há 9 minutos
  • 5 min de leitura

Introdução


Muito se comenta, exalta, relativiza ou afirma sobre o que de fato seria a inteligência. De fato, este é um conceito complexo cuja definição evoluiu ao longo do tempo. Atualmente, o consenso utilizado pela psicometria - definida como o “campo do conhecimento em psicologia voltado para a construção de evidências por meio da modelagem dos construtos psicológicos”, segundo o artigo brasileiro “Contribuições da psicometria para o estudo em neuropsicologia cognitiva” - é de que a inteligência se baseia na capacidade de aprendizado, resolução de problemas e adaptação ao ambiente em que o indivíduo está inserido. Nesse contexto, em que a ciência tenta compreender esse tão importante traço do ser humano, é que surge o uso dos testes de QI.


A origem dos testes de QI


Charles Spearman, psicólogo inglês, ficou interessado em como se correlacionariam as pontuações de estudantes em variadas matérias; tentando responder, por exemplo, se havia alguma ligação entre a nota de um aluno em matemática e sua nota em francês. Após estudar as notas dos estudantes, Spearman percebeu que havia um grau de correlação positivo entre as pontuações de diferentes assuntos estudados, ou seja: quanto maior a nota de um aluno em matemática, maior seria a chance de sua nota ser alta em outras disciplinas. A partir disso, concluiu que todos têm um determinado nível geral da inteligência (ou fator G) que definia a velocidade de aprendizado e capacidade de análise crítica do indivíduo, indicando que um aluno com fator G baixo teria a tendência de ter pontuações menores, enquanto o oposto ocorria para pessoas com o fator G alto.


Contemporaneamente, Alfred Binet e Théodore Simon - psicólogos franceses - desenvolveram o Teste de Binet-Simon para identificar crianças com maior necessidade de apoio no momento de aprendizado nas escolas. Para isso, desenvolveram um método que colocava em prova a agilidade de pensamento, memória, reconhecimento de padrões e entendimento de termos abstratos, atribuindo uma idade mental a quem fizesse o teste baseado na comparação do desempenho médio das pessoas com a mesma idade.


Para chegar à pontuação do QI de alguém, é feita a razão entre a idade mental e a idade real do indivíduo e em seguida multiplicando este valor por 100. Por exemplo, se um estudante tem o desempenho de um jovem de 18 anos, sua idade é 18. Se este indivíduo possuísse nove anos, teria 200 pontos de QI ( 18/9 * 100 = 200).


Ao longo do tempo, o entendimento da inteligência e da mente humana impulsionaram a evolução dos testes de QI, sendo atualmente muito mais complexos e embasados cientificamente do que o de Binet-Simon, mas a essência da ideia se mantém: comparar a inteligência de um indivíduo com a média da população com a qual se quer comparar.


Mas, afinal, o que é QI?


O QI é, de certo modo, uma medida de posição, que indica em que parcela da sociedade seu nível de inteligência se encontra. Quanto maior o QI de um indivíduo, menor a quantidade de pessoas semelhantes a ele em pontuação de QI, e o mesmo vale para QI’s inferiores.


Por consenso científico e matemático - definido através da observação de diversos fenômenos da natureza que, segundo o matemático Gauss, seguiam este padrão, uma vez que características e eventos predominantes serão os mais próximos da média, da mediana e da moda -, utiliza-se a curva de Gauss (imagem abaixo) para definir o quão comum é determinada pontuação de QI em comparação com uma população, sendo a média 100 e desvio padrão 15. Em termos simples, uma pessoa com inteligência mediana terá 100 pontos de QI, mas o mesmo vale para pessoas com até 14 pontos a mais ou a menos. Quando se pontua um QI 15 pontos ou menos que 100, o sujeito é identificado como tendo uma inteligência abaixo da média, ao mesmo tempo que o mesmo, caso pontue 15 pontos acima de 100, é definido como tendo uma inteligência acima da média. A cada variação de 15 pontos, define-se uma categoria diferente de nível de inteligência, sendo que 65% da população está na média e 95% está entre 70 e 130 de QI, tornando pessoas fora deste intervalo raras.


Figura 1 - Definição de QI e testes de inteligência, https://www.worldwide-iq-test.com
Figura 1 - Definição de QI e testes de inteligência, https://www.worldwide-iq-test.com

Por sua vez, é interessante ressaltar que a inteligência de um indivíduo e seu QI é definida por traços genéticos, ambiente e nutrição, sendo que a negligência em qualquer um desses pontos pode afetar negativamente a inteligência.


Os limites dos testes de QI


Assim como ocorre na medição de todos os objetos de análise, a medição da inteligência de um indivíduo pode se tornar mais complexa, já que existem fatores que consensualmente interferem no estudo dessa característica, como a motivação, habilidades, possíveis estímulos do ambiente e condição emocional no momento do teste, entre outros impasses que podem dificultar análise. No entanto, os testes modernos como o WAIS III, para adultos, e o WISC IV, para crianças, levam em conta todos esses fatores e minimizam o efeito deles ao máximo, tornando mais seguro e preciso seus resultados.


No entanto, as diferenças culturais, de fato, não podem ser ignoradas para a criação de um teste universal. Os testes para serem efetuados devem ser adaptados para a população na qual se pretende aplicar este tipo de teste. Um exemplo claro está presente em uma das perguntas do teste de inteligência norte-americano WAIS III, que pergunta “Quem foi Benjamin Franklin?”, mas quando adaptado para a versão brasileira, a pergunta foi alterada para “Quem foi Santos Dumont?”.


Portanto, apesar dessas limitações, os testes de inteligência validados por especialistas são precisos o suficiente para que o seu resultado seja utilizado seriamente, sendo capaz de prever quais pessoas têm maior ou menor capacidade de aprendizado e até mesmo de indicar correlação entre QI e desempenho profissional, acadêmico e financeiro.


Conclusão


Os testes de QI são um método extremamente conceituado e fundamentado, sendo de suma importância para análises neuropsicológicas, estatísticas e outras áreas de estudo, não se tratando apenas de um número bruto que tenta exaltar ou frustrar a posição de quem faz o teste, mas sim, uma medida de comparação que se adequa ao que é padrão na sociedade, permitindo que se possa lidar com a pluralidade humana com atenção e respeito às diferenças individuais de cada indivíduo, além de possibilitar que todos sejam capazes de extrair de si o potencial que possui, mostrando que os testes de inteligência não são apenas importantes para acadêmicos e médicos, mas sim, para a manutenção e cuidado de toda a sociedade.





REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


[1] Intelligence Quotient, Wikipedia - Intelligence quotient - Wikipedia


[2] Richardson, K., & Norgate, S. H. (2015). Does IQ really predict job performance?. Applied Developmental Science, 19(3), 153-169. Spearman, C. (1961). ""General Intelligence"" Objectively Determined and Measured. - https://www.jstor.org/stable/1412107


[3] Zagorsky, J. L. (2007). Do you have to be smart to be rich? The impact of IQ on wealth, income and financial distress. Intelligence, 35(5), 489-501. - Do you have to be smart to be rich? The impact of IQ on wealth, income and financial distress - ScienceDirect


[4] Gottfredson, L. S., & Deary, I. J. (2004). Intelligence predicts health and longevity, but why?. Current Directions in Psychological Science, 13(1), 1-4. - Epidemiologia cognitiva: com ênfase em desembaraçar a capacidade cognitiva e o status socioeconômico - ScienceDirect


[5] The Stability of Intelligence From Age 11 to Age 90 Years: The Lothian Birth Cohort of 1921 - https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/0956797613486487?journalCode=pssa


[6] Contribuições da psicometria para os estudos de neuropsicologia cognitiva - https://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-36872015000200008#:~:text=A %20psicometria%20%C3%A9%20um%20campo,ser%20confundida%20com%20a%20estat%C3%ADsti ca.



[8] Escala de Inteligência Weschler para Crianças - https://en.m.wikipedia.org/wiki/Wechsler_Intelligence_Scale_for_Children

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