As medidas de distanciamento social implementadas com o objetivo de conter a disseminação do vírus afetaram diretamente o mercado de trabalho, uma vez que restringiram o funcionamento das atividades econômicas. Diante de tal restrição, houve uma queda no consumo, na produção e, portanto, na demanda por trabalho. Observa-se, assim, que a queda de demanda por trabalho ocorreu de forma heterogênea entre os ramos do mercado de trabalho e as classes econômicas.
Com a explosão da pandemia de COVID-19, a classe dos trabalhadores informais foi a que mais sofreu duras consequências, pois os integrantes dessa não puderam desfrutar dos direitos trabalhistas básicos e ficaram à margem do sistema de proteção social. Por exemplo, enquanto muitos trabalhadores formais estavam sendo demitidos e recebendo seus benefícios (como auxílio-doença e seguro-desemprego), aqueles informais se depararam com a falta de amparo social para garantir o seu sustento.
Além disso, o isolamento social imposto pelo governo afetou de forma mais significativa os setores de comércio e serviços, onde se encontra grande parte dos trabalhadores informais, evidenciando que o desemprego por conta da pandemia não ocorreu de forma homogênea em todos os setores. Em particular, embora a redução do emprego formal em 2020 tenha sido expressiva (-4,2%), a queda no emprego informal foi, proporcionalmente, três vezes maior (-12,6%).
É importante notar que, até mesmo dentro da classe de trabalhadores informais, existem variações quanto a quais ocupações sofreram mais com o desemprego. Um exemplo claro dessa situação é quando se compara os motoristas de aplicativo com os entregadores: enquanto a primeira categoria enfrentou uma profunda crise da demanda de seu serviço (isso porque, com o isolamento social, as pessoas não saíam de casa tão frequentemente), a segunda categoria se deparou com um aumento na sua demanda, uma vez que uma parcela maior da população passou a fazer uso do sistema delivery.
Adicionalmente, o nível de escolaridade desempenha um papel importante quando se analisa as taxas de desemprego: as ocupações de baixa escolaridade foram particularmente afetadas, com redução de 20,6% no emprego de pessoas com até 3 anos de estudo e de 15,8% no grupo com escolaridade entre 4 e 7 anos. Por outro lado, houve um aumento de 4,8% no emprego de pessoas com 15 anos ou mais de estudo. Além disso, o gênero também impacta a taxa de desemprego: em 2021, a taxa de desocupação foi de 17,9% para as mulheres e de 12,2% para os homens.
Quando se trata dos pequenos negócios, esses foram amplamente afetados pelo distanciamento social e a prática de lockdown. Um levantamento do Sebrae revelou que as pequenas empresas estão faturando, em média, 43% menos do que o registrado antes da pandemia. Apesar dessa queda de demanda, esses negócios começaram a se reestruturar a partir da adoção de novas tecnologias: a adoção da ferramenta PIX como método de pagamento, que atingiu a marca de empregabilidade de 86% pelos pequenos estabelecimentos desde o início da pandemia.
O agronegócio também sofreu variações na demanda desde o início da pandemia. De acordo com o estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT), apresentado no evento “COVID-19: Emprego, informalidade e transformação produtiva na economia rural da América Latina e do Caribe”, as exportações na América Latina caíram 23% no ano de 2020. A queda é explicada pela redução nos preços dos produtos agrícolas e pela diminuição da demanda do setor no mundo. Além disso, o rendimento médio do trabalhador rural regrediu em 3% nesse mesmo período.
Essa queda na demanda foi responsável pelo aumento na taxa de desocupação no campo. A pandemia também refletiu o crescimento de outro grande problema no setor: o trabalho informal. O estudo mostrou que a informalidade no emprego rural representa 76,2% dos trabalhadores assalariados.
A pandemia do COVID-19 também exacerbou as disparidades socioeconômicas brasileiras. De acordo com dados do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, a nossa nação retrocedeu e voltou a integrar o mapa da fome: 33 milhões de pessoas passam fome diariamente no Brasil e 58.7% da população brasileira enfrenta insegurança alimentar. Também se evidencia que a pobreza é maior nas áreas rurais, entre crianças e adolescentes; entre indígenas e afrodescendentes; e entre a população com menores níveis educativos.
Fontes:
FGV IBRE. O impacto da pandemia no mercado de trabalho. Disponível em: https://blogibre.fgv.br/posts/o-impacto-da-pandemia-no-mercado-de-trabalho#:~:text=As%20ocupa%C3%A7%C3%B5es%20de%20baixa%20escolaridade,anos%20ou%20mais%20de%20estudo. Acesso em: 18 jul 2022.
UNILEÃO. Pandemia no Brasil: quais os efeitos no mercado de trabalho? Disponível em: https://unileao.edu.br/blog/pandemia-no-brasil/. Acesso em: 18 jul 2022.
UFRGS. Impacto da pandemia no trabalho informal. Disponível em: https://www.ufrgs.br/ifch/index.php/br/impacto-da-pandemia-no-trabalho-informal#:~:text=1%20%2D%20Em%20um%20momento%20de,do%20sistema%20de%20prote%C3%A7%C3%A3o%20social.Acesso em: 18 jul 2022.
IPEA. Trabalhadores por conta própria foram os mais prejudicados pela pandemia em 2022. Disponível em:
https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=37743. Acesso em: 18 jul 2022.
JORNAL DE BRASÍLIA. Impacto da pandemia é maior para trabalhador rural diz OIT. Disponível em: https://jornaldebrasilia.com.br/noticias/economia/impacto-da-pandemia-e-maior-para-trabalhador-rural-diz-oit/. Acesso em: 18 jul 2022.
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