Os fungos estão por toda parte, mas são difíceis de visualizar. Eles estão dentro de você e ao seu redor, sustentando você e tudo de que você depende. Como Merlin Sheldrake afirma: “Esses microrganismos eucarióticos, que podem ser tanto unicelulares quanto multicelulares, estão presentes não apenas em bolores de pão ou na levedura que produz a cerveja". Esses pequenos organismos, pertencentes ao reino Fungi, desempenham um papel crucial nas indústrias química, farmacêutica e alimentícia, contribuindo para a produção de uma variedade de produtos comestíveis, laticínios e bebidas alcoólicas. Eles são facilmente encontrados em todos os tipos de biomas terrestres e têm uma capacidade extraordinária de se adaptar a novos ambientes, sendo encontrados no solo, água, ar, alimentos, vegetais, detritos, animais e até mesmo no corpo humano.
Os fungos desempenham um papel essencial na criação e manutenção de praticamente todos os ecossistemas terrestres. Um exemplo marcante é o dos líquens, uma associação de algas, cianobactérias e fungos, que foram os primeiros organismos a colonizar e formar o solo, proporcionando o ambiente no qual as plantas eventualmente criaram raízes. Além disso, destaca-se a capacidade dos fungos micorrízicos de conseguirem conectar árvores em redes compartilhadas, conhecidas como "internet das árvores". Esses fungos são encontrados em praticamente todas as plantas que crescem de maneira natural, podendo até ajudar a defendê-las de possíveis pragas e doenças.
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Outro papel importante dos fungos é o seu poder de decomposição. Normalmente, estamos acostumados a ver fungos decompondo alimentos, os famosos "bolores". No entanto, a capacidade fúngica de decompor algumas substâncias vai além disso. Através de seu metabolismo, esses fungos são capazes de secretar enzimas e ácidos potentes o suficiente para degradar substâncias como a lignina, rochas, plástico de poliuretano, óleo cru e até mesmo explosivos como o TNT. O processo de decomposição não traz benefícios apenas para os fungos, mas também ajuda na manutenção dos ecossistemas e na recuperação de áreas ambientais que foram devastadas por radiação. Um exemplo disso são os fungos radiotróficos, ou fungos negros, capazes de realizar a radiossíntese, forma de obter seu alimento através da conversão da radiação em fonte de energia.
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Historicamente, os fungos vêm sendo usados na produção de alimentos em continentes diferentes. No entanto, às vezes essa relação fungo-alimento pode se tornar catastrófica. Quem nunca ouviu falar ou até mesmo experimentou os famosos "queijos mofados" como Roquefort, Camembert, Gorgonzola e Morbier ou ingeriu alimentos e bebidas fermentados com o auxílio da levedura Saccharomyces cerevisiae, como pães, vinhos e cervejas? A influência da gastronomia oriental e europeia disseminou ao mundo pratos e receitas que usam cogumelos como ingrediente, podemos citar como os mais famosos o cogumelo Paris, Portobello, Shitake e Shimeji. Entretanto, nem sempre a relação que um fungo estabelece com certo alimento é benéfica para outros seres além dos fungos. É aí que entram os tão conhecidos bolores, que produzem substâncias nocivas à saúde chamadas de micotoxinas. A ingestão desses alimentos contaminados pode causar vômitos, alergias, diarréias, intoxicação alimentar e até mesmo câncer.
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Os fungos podem representar riscos significativos para a saúde humana, especialmente em certas condições. Infecções fúngicas podem ser persistentes e difíceis de tratar, causando uma série de sintomas desconfortáveis, desde irritações na pele até complicações graves nos pulmões e no sistema nervoso central. Em indivíduos com sistemas imunológicos comprometidos, como aqueles que sofrem de HIV/AIDS, câncer, diabetes ou que estão sob terapias imunossupressoras, as infecções fúngicas podem ser ainda mais perigosas, às vezes fatais. Os fungos podem causar uma variedade de doenças que afetam a saúde humana. As principais doenças fúngicas incluem: Candidíase, Micose, Aspergilose, Histoplasmose, Criptococose e Mucormicose. Mas, nem sempre a relação dos fungos com os seres humanos é negativa ou perigosa. Algumas espécies de fungos são usadas para produção de medicamentos.
Os fungos desempenham um papel crucial na produção de medicamentos de várias maneiras. Um exemplo notável é a produção de antibióticos, como a penicilina, que é derivada do fungo Penicillium. Esses compostos têm sido fundamentais no tratamento de infecções bacterianas, salvando inúmeras vidas desde sua descoberta. Além disso, os fungos são utilizados na produção de uma variedade de outros medicamentos, como estatinas para reduzir o colesterol, imunossupressores para transplantes de órgãos e agentes antifúngicos para tratar infecções fúngicas. Em muitos casos, os fungos produzem naturalmente compostos bioativos com propriedades medicinais, e os cientistas podem manipular esses organismos para aumentar a produção desses compostos ou para produzir novos compostos com potencial terapêutico. Assim, os fungos desempenham um papel vital na descoberta e desenvolvimento de medicamentos que são essenciais para tratar uma variedade de doenças e condições médicas.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] Sheldrake, M. (2021).A trama da vida: como os fungos constroem o mundo. Ubu Editora. Departamento de microbiologia USP. Importancia medica dos fungos. Disponivel em: https://microbiologia.icb.usp.br/cultura-e-extensao/textos-de-divulgacao/micologia/micologia-medica/importancia-medica-dos-fungos/UOL.
[2] De Chernobyl para o espaço: conheça os fungos que comem radiação. Disponível em: https://www-uol-com br.cdn.ampproject.org/v/s/www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2022/02/13/de-chernobyl-para-o-espaco-conheca-os-fungos-que-comem-radiacao.amp.htm?amp_gsa=1&_js_v=a9&usqp=mq331AQIUAKwASCAAgM%3D#amp_tf=De%20%251%24s&aoh=17116643407746&referrer=https%3A%2F%2Fwww.google.com&share=https%3A%2F%2Fwww.uol.com.br%2Ftilt%2Fnoticias%2Fredacao%2F2022%2F02%2F13%2Fde-chernobyl-para-o-espaco-conheca-os-fungos-que-comeradiacao.htm