Por André Hiroki e Beatriz Franco
Apesar do gradual crescimento da diversidade nas ciências exatas e na tecnologia, a participação feminina nestas áreas continua sendo uma questão desafiadora. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), as mulheres são, nas universidades, apenas 35% dos estudantes matriculados em cursos de ciência, tecnologia, engenharia ou matemática (STEM). No que tange às mulheres negras, então, as estatísticas são muito mais drásticas. À vista disso, muitas cientistas e engenheiras guardam, em comum, o desejo de expandir a educação de STEM para outras mulheres.
Primeira negra brasileira doutora em física e primeira negra professora no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) – uma das mais prestigiadas instituições de ensino brasileiras –, Sônia Guimarães palestra sobre sua história como estudante de física e sobre a representatividade feminina e negra na ciência. Nesta entrevista exclusiva concedida ao Jovens Cientistas Brasil, realizada no dia 2 de julho de 2023, a professora conta histórias próprias e de alunas, expressa perspectivas sobre a educação e demonstra preocupações sobre o futuro dos estudantes.
O que mais te encanta na física e o que te motivou a seguir carreira nesta área?
“O que me motivou realmente foi a Física Moderna. Eu já estava fazendo física e, na Física Moderna, eu conheci as Equações de Maxwell. As Equações de Maxwell usam a física e a matemática para explicar o surgimento da luz. Sabe, explicar o surgimento da luz usando [...] equações matemáticas, operadores matemáticos para explicar física… Eu achei isso fantástico e comecei a estudar semicondutores nos anos 70. Nos anos 70, o meu professor de semicondutores dizia: ‘Os semicondutores vão ser a base de toda a tecnologia, de todo o desenvolvimento tecnológico que vai existir.’ Nos anos 70! E é exatamente o que está acontecendo agora.
Os semicondutores são materiais que ficam entre os condutores e os isolantes, mas, conforme você os fabrica, eles podem conduzir ou não [correntes elétricas], no momento que você quer, como você quer. Daí isso fez uma revolução fantástica da tecnologia. Hoje, eu tenho PhD em semicondutores aplicados a micro dispositivos eletrônicos. Quer dizer, no meu segundo ano de física eu descobri que realmente era física que eu queria e isso definiu minha carreira.”
Você é especialista em semicondutores e sensores de calor. Nós queríamos pedir para você detalhar um pouquinho o que você pesquisou nesta área e como esta ciência pode impactar diretamente o nosso dia a dia?
“No meu mestrado, eu usei semicondutores para fazer as células solares, que são aquelas que transformam energia solar em energia elétrica. Na realidade, eu fiz uma análise da camada anti refletora dessas células para torná-las mais eficientes. Fazer com que um menor número de raios solares fossem refletidos e um maior número incidisse na célula solar, transformando em energia elétrica. Tudo física, tudo raios refletidos e raios incidentes. No meu doutorado, eu trabalhei com tecnologias para tornar dispositivos microeletrônicos os menores possíveis. [...] Para você fazer um dispositivo microeletrônico, [...] ele tem que ser [feito com] um pedaço positivo e um pedaço negativo. O que eu fiz foi com que cada vez mais essas camadas positivas e negativas fossem o mais finas possível. Conforme elas vão ficando cada vez mais finas, elas vão ficando mais rápidas e vai precisando de menos espaço para trabalhar [...] É a evolução que a gente está trabalhando hoje dentro do seu celular, que são pequenininhos e já têm um nano computador. [...] o teu celular funciona como um computador, não é verdade? [...]”
Agora uma pergunta mais relacionada ao curso de física: alguns dados revelam que apenas uma minoria que começa o curso, termina-o. Por que você acha que isso acontece?
“Bom, de uma experiência que eu tô tendo com as minhas alunas – desculpe o gênero, mas é que eu me preocupo muito com elas, e elas também são muito minoria –, acontece um problema seríssimo. Eu grito, grito, grito: ‘Meninas, venham para a física!’, elas fazem vestibular e passam. No primeiro ano, elas têm Cálculo I, elas não viram esse tipo de matemática no nível médio, elas não viram nada parecido. E, no Cálculo I, veem aquela coisa tudo de uma vez e têm que passar, porque senão depois não conseguem se formar. Muitas gostam de matemática e conseguem superar essa fase, mas muitas acabam desistindo no primeiro semestre, no Cálculo I. E o que elas fazem? Vão embora das exatas, cáspita! Eu entro nas exatas e já no primeiro semestre me ferro? Bye bye, e vão fazer alguma outra coisa que não seja física. [...] Isso barra muita gente, barra também o gênero masculino.
Mais uma outra coisinha: o preconceito. Elas estão na física, elas estão em, no máximo, uma, duas, quatro meninas na física, no curso todo! Os professores do gênero masculino – que são a maioria ésima, ésima, ésima – não as aceitam, as tratam como se elas fossem menos, têm preconceito! Numa das palestras que eu dei para duas garotas, [...] eram físicos todos e tinham duas meninas só. ‘Professora, o professor falou pra mim que eu merecia 10 nesse trabalho, mas, como eu sou menina, ele ia me dar 9! E a classe toda riu.’ Isso é um estímulo para essa menina continuar na física? Como ela está sendo estimulada? [...] Como será que os professores estão tratando essas meninas todas, essas pouquíssimas meninas todas, nos cursos todos?
Maravilha, ela supera tudo isso e consegue chegar no mestrado. Idem! Os mesmos problemas e o nível de tudo da física, da matemática e de tudo mais é mais alto no mestrado. Deus a ajude e ela não desista. Pau, pau, pedra, pedra, chega no doutorado: mais complicações! Nem todo mundo acha que precisa desse sofrimento todo, entendeu? Então, já tínhamos pouquíssimas na graduação, elas vão diminuindo no mestrado e diminuindo no doutorado. A consequência é isto: temos universidades em 2023 que não têm nenhuma professora do gênero feminino! [...]
Ontem, eu dei uma palestra na Unicamp [Universidade Estadual de Campinas] para duzentas meninas que estão dentro do grupo da Unicamp chamado ‘Super Cientistas’. Duzentas meninas! E essas, todas no nível médio, vão decidir agora qual é a área que elas vão seguir. Existe um curso dentro do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, em Campinas, de licenciatura em ciência e tecnologia, e tem novecentas pessoas estudando lá. Esse curso, gente, você tem que se inscrever e fazer um concurso. Ele te pega, paga a tua passagem de onde você estiver no Brasil, leva lá para Campinas, tem hospedagem o dia inteiro – o tempo que você estiver fazendo o curso–, paga refeição, um laptop... Todas as condições possíveis para você permanecer no curso. Começou esse ano, vai ser um curso de dois anos. [...] Alguma coisa pequenina né, o Brasil tem 200 milhões e eles tão tendo lá 900 pessoas talvez, mas tem gente fazendo isso. Essa coisa vai mudar. [...]”
Você é a inspiração para muitos jovens, principalmente para as garotas diante de toda a sua trajetória. Quando você estava na universidade, quem era sua inspiração para continuar seguindo?
Minha mainha! Eu não tenho opção. ‘Ah, mainha, eu não consegui. Ah, mainha, eu não vou conseguir’. ‘Nananinanão, você vai sim e você vai conseguir.’ ‘Ah, não sei quem tá fazendo isso contra mim.’ ‘Quem é? Eu vou lá, eu vou falar com ele.’ Tá entendendo? Eu não tenho a opção. ‘Ah, mainha, eu não vou conseguir, mainha.’ ‘Não, senhora, você chegou até aqui, você tem que conseguir e ainda chegar mais alto.’ Ponto e basta, sabe? Vencer, vencer, vencer. E ontem muitas meninas foram lá falar pra mim ‘você é a minha inspiração’. Eu viro para elas e falo ‘Maravilha, e pare o teu jogo só quando você vencer. Enquanto você não vencer, o teu jogo não acabou.’ Porque tem sempre alguém pra dizer ‘você não vai conseguir’, ‘você não é inteligente o suficiente’. Quem é essa pessoa pra saber do meu futuro? Quem é essa pessoa pra saber da minha capacidade? Você é a única pessoa que sabe de si mesma, ponto e basta, bye bye. Vai lá, ganhe e depois me fale, porque eu adoro contar essas histórias nas minhas palestras. Uma menina tava toda contente, eu fui a inspiração dela pra fazer física. Ela fez um projeto, o projeto foi para um concurso, e ela estava em vias de ganhar o troféu. E ela ganhou o troféu! Então, ela já é a menina da minha próxima palestra. ‘Professora, terminei o curso de física e ganhei o troféu do nosso projeto.’ Viva! [...]”
Você detém o título de primeira mulher negra brasileira doutora em física e também a primeira professora do ITA. Qual foi o maior desafio que você passou durante essa trajetória?
“Os meus desafios são diários, queridinha! Eles ainda estão existindo, ainda hoje. A coisa mais importante, o que eu tenho que superar todo o tempo é aquela história ‘você não vai conseguir’, ‘você não é inteligente o suficiente’, ‘você já viu alguma professora negra que tenha conseguido o que você conseguiu?’. [...] Bom, queridinhos e queridinhas, a atual reitora de Harvard, onde estudou Obama, é uma menina negra! Quer dizer, sim! Sim, sim, meninas negras de todo o mundo, existe alguém que conseguiu e, se ela conseguiu, você também vai conseguir. Só isso que eu tenho a dizer. O que te disserem você ouve se quiser e você aceita se quiser, mas, tudo o que não for bom, não te convém, não vai te levar a lugar nenhum. O único resultado de desistir é não conseguir. Você quer não conseguir? Então, simplesmente vá em frente. Não adianta ficar se bloqueando dentro dos desafios, né? [...]”
Durante a sua trajetória, você sentiu a vontade de desistir por pensar que o meio científico, acadêmico não te pertence? E, se você sentiu estas dificuldades, como você lidou com isto?
“Fiz nada, queridinha, porque que que faz? Vou brigar com aquela pessoa que tem esse pensamento? Sabe, é igual discutir ‘o Corinthians é melhor que o Palmeiras’. Vai discutir isso com quem? Então, que que eu fiz, por exemplo, no meu ginásio, que é o Fundamental II hoje, me foi dito que eu nunca iria aprender física. Eu terminei aquele ano com a segunda melhor nota do colégio inteirinho! [...] Já na graduação, eu queria a tal da Bolsa de Iniciação Científica, né. Eu sempre fiz pesquisa e aí eu iria ganhar um dinheiro para fazer pesquisa. Resposta: ‘Você nunca vai usar física pra nada, porque que eu vou desperdiçar uma bolsa contigo?’ Eu terminei aquele ano, entraram na licenciatura de física, junto comigo, a ordem de 50 pessoas. Se formaram nos 4 anos regulamentares a ordem de 6 pessoas, e só 2 meninas. Adivinha quem era uma das meninas que se formou no tempo regulamentar? E já fui para o mestrado e doutorado e cheguei onde vocês já sabem. Quer dizer, eu fiz alguma coisa com física? Então é isso que eu faço com essa gente. Não vou aprender física, não vou fazer nada… Eu sou inventora, queridinha, eu tenho uma patente! E é pura física, os meus sensores de calor são física pura! [...] Você não precisa discutir. Mostre, prove, aja! O resto é história, o resto é resto. Não é uma discussão que você possa ter, não adianta, não dá pra discutir nada com isso.”
Você falou de várias conquistas suas, inclusive a medalha Santos Dumont. Mas, mesmo após tanta coisa, há algum sonho ou ambição que você ainda busca atingir?
“Sim, eu quero aumentar o número de mulheres negras no poder, políticas! Vereadora, deputada estadual, deputada federal, presidenta! Ontem, eu conheci a nossa futura presidenta. Ela fez ‘professora, eu vou pras exatas, eu gosto’, minha vó me chamava de xereta quando eu era pequenininha, ‘eu sou xereta igual a senhora era, mas minha meta é ser presidenta!’. Falei ‘eu vou votar em você com certeza!’ Menina negra, da periferia, ‘eu quero estar viva porque eu vou votar em você!’. E numa live para meninos do nível médio, um pediu pra conversar comigo separadamente, o sonho dele é ser físico, ganhar prêmio nobel em astrofísica, eu falei ‘Maravilha!’. Ele detesta a língua inglesa, eu falei ‘Você tem que, primeira coisa, é começar a aprender a falar inglês! Como é que você vai dizer thank you em português? Lá na Suíça eles não vão entender o que você tá falando’. [...] Isso eu quero, eu quero todas essas posições de poder, poder real, porque as meninas ficam ‘ah, você me representa’, que legal, que legal. Eu não represento ninguém, gente. Vocês têm que votar e ter representatividade no poder. Aquela gente que faz lei tem que fazer lei considerando essa genta aqui ó, nóis tudo. Porque essa gente que tá lá agora… oh my God! [...]
Olha, eu seria a pior política do mundo, porque além de tudo eu falo. E político tem todo aquele jeito de responder às perguntas de uma forma toda delicada, maravilhosa. Não, eu pá, pum, tchau, e isso não é uma boa política. Você tem que ser muito mais sutil do que eu sou. Mas eu gostaria de fazer campanhas para certas pessoas que são conscientes e querem entrar, ter o poder, consigam. [...]”
Como você vê o futuro tanto do seu campo de trabalho quanto das ciências exatas em geral? Você espera mudanças significativas seja sobre a diversidade étnica racial e de gênero seja sobre a inovação científica? O que você espera do futuro?
“Que ele seja inclusivo! Étnico, gênero, pessoas com deficiência… Existe uma empresa aqui em São Paulo só de tecnologia, purinha purinha! O pessoal só fica escrevendo códigos, trabalhando com inteligência artificial, e um dos meninos não tem um braço. Uma sumidade em física! A Mestre e doutora que trabalha no Centro Tecnológico da Informática Renato Archer, em Campinas, é cega! Ele [o futuro] tem que ser inclusivo, porque essas pessoas não morreram, elas são vivas, elas precisam dessa tecnologia, elas precisam trabalhar, elas são capazes! Elas só têm deficiência de movimento. ‘Não tem um braço…’ Caspas, ela tem o outro braço! ‘Ah, não tem os dois braços’, mas ela fala! ‘Ah, não fala’, mas enxerga! Todos eles têm alguma capacidade pra alguma coisa. Pelo amor de Deus, que essa tecnologia inclua esse pessoal. Então, como eu vejo é como tem que ser e não pode ser outramente. [...] As exclusões são burras, ninguém ganha nessa guerra!
E as ideias vão mudando quando você inclui. [...] Não sei quantos anos tem a Escola São Francisco de Direito da USP [Universidade de São Paulo]. Agora foram um, ou dois, ou três anos, [...] incluiram os negros na escola e, pela primeira vez na historia do Brasil, um menino negro perguntou pro professor de direito ‘Por que que eu tenho menos direito que os meus irmãos brancos?’ [...] Por quê? Qual é a razão disso? Nunca essa pergunta foi feita. Isso é inclusão. Imagine, gente, esse menino quando se formar em advocacia: quais são as guerras que ele vai lutar, quais são as leis que ele vai querer mudar? Vocês já perceberam isso? É coisa nova. Vocês sabiam que aquele negocinho [...] que põe assim no dedinho pra medir o oxigênio da gente, que foi super usado na pandemia, trabalha pessimamente com a pele negra? Quem inventou aquilo simplesmente esqueceu parte da população do mundo! [...] Então, tem que ter mais médicos pretos e médicas pretas para incluir isso. [...] A mulher tem 62% maior probabilidade de ter acidentes gravíssimos, só porque ela não é homem. Quem inventou o carro esqueceu que as mulheres poderiam dirigir, andar dentro desses carros. Há quanto tempo a mulher dirige? Até hoje o carro tem esse problema. Tem que ter mais engenheiras mecânicas mulheres. Então, a inclusão está atrasada. Ela é necessária, necessária, necessária. [...] a gente tem que melhorar essas coisas e só vamos melhorar tudo isso com inclusão.”
Ainda falando sobre o futuro. Considerando todas as mudanças sociais que aconteceram nos últimos anos – tanto avanços quanto retrocessos em algumas partes –, quais são os maiores desafios que serão enfrentados pela geração de crianças, de jovens e de meninas que iniciam agora suas trajetórias acadêmicas e profissionais?
“Já tá acontecendo hoje, tá? Nem é tão futuro não, já tá acontecendo. Está diminuindo o número de inscritos no ENEM [Exame Nacional do Ensino Médio]. Está diminuindo o número de pessoas que acham que o futuro deles é entrar numa universidade. Isso é terrível! Não sei se já existe uma estatística de gênero e cor da pele, mas os jovens estão perdendo interesse e esperança. Não tem mais poder neste mundo do que uma pessoa sem esperança, porque, se ela não tem esperança, ela não tem nada a perder. A pior pessoa desse mundo é a pessoa que não tem nada a perder, ela é extremamente perigosa. Alguma coisa tem que ser feita pra dizer pra essa molecada toda: ‘sim, existe futuro!’, porque aparentemente eles e elas tão achando que não tem futuro, que ‘Não vou conseguir. Se eu conseguir, pra que? E daí?’. Isso é muito, muito, muito, muito ruim. [...] Nós precisamos dobrar o número de candidatos para os vestibulares, não diminuir. [...] A minha gritação toda é que seja pras ciências e pras exatas, mas pra todas as áreas! Porque tem que vir gente, tem que formar. Não existe outro caminho para o desenvolvimento pessoal que não seja a educação. [...]
Então, o maior desafio é fazer a molecadinha repensar isso, mudar esse tipo de pensamento, lhes dar esperança, força pra lutar, oportunidade nessa luta. E o resultado vai ser Coréias, Singapuras, Chinas… Dá licença, há 50, 60 anos atrás, China era um país do terceiro mundo. Como é que tá a China hoje, gente? O maior número de PhDs do mundo é lá dentro, inclusive de meninas, tá? Não é só de meninos não. Então, mas o que acontece? Você tem que investir em educação de qualidade, não deixá-los desistir. Provar para eles que esse é o caminho, provar para eles que esse é o melhor, que esse é o único caminho para o desenvolvimento. [...]
Ó, se você estudar, se qualificar bem, você vai. E se você pegar uma dessas profissões fantásticas que tá todo mundo precisando de você, você vai ganhar um montantão de dinheiro. ‘Ah, mas eu tenho que trabalhar’, bé, faz parte. Se você quer facilidade, limpa uma lesma na descida. Tenta empurrar uma lesma na descida e vê se você consegue. Então, não existe nada fácil. E, outra coisa, deixa eu dizer uma coisa bem legal: quanto mais difícil, e você conseguir, vai ser super legal! Então, por favor, não perca as esperanças. Não vá pelo caminho mais fácil, ele não existe, as consequências são funestas! Vá pelo melhor caminho, aquele que te dá felicidade. E depois, lá no fundo, você vai lá e me conta ‘eu consegui, tô ganhando tanto por mês’, enfim, enfim.”
Você costuma dizer que o futuro da ciência é ancestral e africano, certo?
Eu só não consegui achar a física ainda, mas ele é!
Você poderia explicar essa conexão entre a ancestralidade africana e o futuro da ciência? Como isso funciona?
“Bom, vou começar com a coisa mais fantástica. Cyrus, ou Sirius, que é o nome do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron [...] tem um acelerador de partículas, tem o maior acelerador de partículas da América Latina. Não sei se já chegou a ser do mundo, eles estavam fazendo ampliações para ser o maior do mundo. [...] Então, o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron chama Cyrus, Sirius. Cyrus foi a primeira estrela que os africanos já conheciam há 6 mil anos atrás. Eles já sabiam a órbita da Cyrus, dois ou três satélites, a órbita de alguns satélites... E a geração agora só conseguiu ver a Cyrus quando eles mandaram o telescópio Hubble lá pra estratosfera, [...] centenas e centenas de séculos depois que os africanos já tinham visto. E, com esse Hubble, eles só constataram que os africanos estavam corretos. [...]
Sabe, gente, quem construiu as pirâmides? O marciano ia se dar o trabalho de sair lá de Marte, chegar aqui, lá no Egito, e construir pirâmide? Pra que eles iriam fazer isso? Detalhe, até hoje, com todas as máquinas que existem hoje, construiu o Empire State e construiu aqueles prédios maravilhosos em Dubai – os prédios mais altos do mundo –, não existe uma única máquina que consiga construir uma pirâmide hoje. Ninguém sabe como elas foram construídas. E elas foram construídas com tamanha precisão que eles não faziam ideia como que eles conseguiam medir aquela precisão. E sabe quem construiu as pirâmides? Foram africanos, porque, quer saber? O Egito fica na África sim, não fica sei lá em onde, porque visto que eles chegaram no Egito e viram todo esse desenvolvimento tecnológico e de conhecimento, eles queriam dizer que o Egito não fazia parte da África e que lá na África não moram pessoas africanas de pele não branca. Sim, sim, sim, os egípcios são negros e negras e eles construíram essas obras [...]
Eles já sabiam como fazer uma cesárea, 1500 anos antes de Cristo. Eles faziam operação no cérebro e no olho! É que depois chegou toda uma gente branca, destruiu tudo e o que eles puderam eles levaram para os próprios países. [...] Sabe aquela história de que a descarga de vaso sanitário foi inventada na Inglaterra? Mentira, mentira, já existia descarga há 10 mil anos atrás. Os mesopotâmicos já sabiam como separar a água usada da água potável. Os ingleses jogavam água suja toda no Tamisa e depois não tinha água pra beber, eles tinham que beber ou chá, ou faziam cerveja pra beber, eles não tinham água potável. Então, senhores e senhoras, os africanos eram muito, mas muito…
Sabe essa história da ‘Wakanda’? A computação tem mais de 6 mil anos. Eles já escreviam códigos 6 mil anos atrás. Os códigos deles se chamam Ifás, da ordem de 256 odus, e eles são a base dos softwares de hoje. Todo esse conhecimento dos ifás foi exportado para Espanha, os ingleses aprenderam, transformaram isso em álgebra e depois o pessoal dos computadores começou a usar nos computadores. Se você sabe bem como os computadores funcionam, com zero, um, zero, zero, um, é exatamente a base do ifá. Só que chama água, terra, ar e fogo. [...]. Isso, eles já faziam isso há 6 mil anos atrás: computação. Então, ‘Wakanda’ parece tudo ficção, mas [...] talvez exista uma ‘Wakanda’ em algum lugar na África que eles não destruíram ainda. Mas isso tudo é coisa de preto, e já era. [...] A Europa é o continente mais desenvolvido hoje por causa da gente preta. O desenvolvimento do mundo foi pago, foi financiado por aquilo que eles não pagaram durante a escravidão. Então, é isso. Ciência, economia, política. Tudo isso é coisa de gente preta.”
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