O jogo online The Sims, agora em sua versão 4, se trata de uma simulação de vida. Tudo começa com a aba “criar um Sim”, que permite a customização total do personagem: olhos, boca, formato do rosto, massa e tipo corporal, cor e textura dos cabelos…
Imagem do jogo The Sims 4
Nas últimas 24 horas, surgiram rumores na internet a respeito de um útero artificial: EctoLife. A tecnologia permitiria a customização do bebê da escolha das mais singelas características aos traços mais marcantes. Além da possibilidade de selecionar o físico do bebê, o primeiro órgão humano artificial promete criar mais de 30.000 bebês por ano.
Imagem divulgada pela empresa
A ideia assustou, logo de partida, os internautas. Compreensível. Parece, de fato, o fim da humanidade, uma distopia quase inevitável. Imagens de locais parecidos com “estufas e plantações” de bebês apavoraram ainda mais o público:
Imagens divulgadas pela empresa
Cientificamente, o desenrolar dessa trama toda não parece tão amedrontador quanto a internet faz parecer. Além do órgão artificial, o bebê continua 100% humano: um espermatozoide, um óvulo, ambos formam um embrião que será implantado em um útero. A lógica é a mesma da inseminação in vitro, já aceita socialmente, com a diferença de que não é um ser humano que cultiva o feto.
A gestação do feto no útero artificial diferencia-se da inseminação in vitro por possuir uma chance maior de sucesso, visto que a tecnologia utiliza a inteligência artificial para selecionar o embrião mais forte para passar pelo processo de fertilização. As condições simulam um útero real e até mais seguro: um útero utópico, que mede os nutrientes necessários e estimulantes para cada bebê (através de IA), protege 100% da entrada de germes e de infecções e não apresenta riscos de prematuridade.
Os nutrientes e oxigênio vêm da ação conjunta de dois biorreatores centralizados no laboratório. O primeiro, chamado de nutrient supply bioreactor (biorreator de suplemento de nutrientes), possui os melhores nutrientes para o feto e controla a chegada de oxigênio, tudo entregue ao bebê pelo cordão umbilical, também artificial. O líquido do biorreator serve, ainda, como líquido amniótico que circula o bebê no útero, com hormônios essenciais, fatores de crescimento e anticorpos. O segundo biorreator, chamado de waste disposal bioreactor (biorreator de depósito de desperdícios), é capacitado para eliminar, pelo cordão umbilical, qualquer excreto, nomeado de waste product, produzido pelo bebê. Com a ajuda de enzimas, o segundo biorreator consegue transformar os waste products em nutrientes para o primeiro biorreator.
Durante a gestação, o útero é controlado 24 horas por dia e 7 dias por semana, considerando oxigenação, temperatura, batimento cardíaco, anomalias genéticas… Os controles da saúde do bebê podem ser acompanhados pelo celular dos pais de casa, na forma de imagens em tempo real do útero artificial. Preocupados com o desenvolvimento do feto, é prometida uma escuta interna que reproduz músicas e palavras, ambas escolhidas pelos pais, durante o tempo no útero para aprimorar a aprendizagem pré-natal. No decorrer, os pais podem conversar com o filho para familiarização de suas vozes.
A inteligência, até, procura um fortalecimento do laço dos pais com o bebê, permitindo a visualização do feto por uma câmera 360° em um aplicativo de smartphone. Quando o app age em conjunto à realidade virtual, os pais podem sentir como é estar no lugar do seu bebê, sentir o que ele sente, ouvir o que ele ouve e, inclusive, vivenciar os chutes do feto.
Como se a tecnologia em si não bastasse, há um upgrade: “elite package”. Neste, o embrião pré-selecionado poderá passar por um campo de bioengenharia que possibilita a customização e modificação genética antes de ser implantado no útero artificial. As possibilidades são múltiplas, a galeria de genes contém mais de 300 modificações que podem ser escolhidas, variando entre: cor do olho, cor do cabelo, cor da pele, força física, altura e nível de inteligência. O upgrade também permitirá a eliminação de doenças geneticamente transmitidas de acordo com o histórico familiar.
Imagem divulgada pela empresa
Ademais, a respeito do “parto”, afirma-se que, diferente do parto humano, será indolor e sem preocupações, necessitando, apenas, que se aperte um botão. Após a ativação, o líquido amniótico do útero artificial será descarregado, e o bebê será removido facilmente. O parto poderá ser assistido pelos pais da criança, que, utilizando o fornecido pela empresa, são concedidos um teste de DNA para reafirmar que o filho é geneticamente de seus descendentes.
Os objetivos expostos incluem: ajudar países que estão sofrendo com queda demográfica, como Japão, Bulgária e Coréia do Sul, auxiliar mulheres que tiveram seu útero retirado e acabar com as complicações de gravidez e parto que, segundo a OMS, matam cerca de 300 mil mulheres todo ano.
Os mecanismos mostram ser de alta tecnologia. Para isso, a empresa afirma não se preocupar com quedas de tensão e pegadas de carbono, visto que a energia responsável pelo laboratório é renovável e segura, absorvida a partir de painéis solares e usinas eólicas. No entanto, caso os pais não confiem ainda em estar longe de seus filhos, há uma opção de levar uma incubadora para casa presa aos mini biorreatores.
Imagem divulgada pela empresa
A cabeça por trás de tudo:
O responsável pela tecnologia que vem recebendo muitas críticas desde que viralizou é o bioengenheiro Hashem al-Ghaili. Com apenas 32 anos, o tecnólogo nascido em Hajjah, Iêmen, reuniu pesquisas e ideias que iniciaram na década de 1950. Adquiriu as técnicas necessárias nas universidades Jacobs University, na Alemanha, e University of Peshawar, no Paquistão. Hashem al-Ghaili tem pressa e alerta: “a tecnologia já está disponível, apenas restrições éticas estão impedindo o conceito de se tornar realidade”.
Críticas e visão social:
As críticas negativas principais circulam critérios demográficos, religiosos e biológicos. Primeiro, o mundo realmente precisa de mais 30.000 bebês por ano? De fato, o alto crescimento populacional aterroriza ambientalistas que sabem o quanto o meio ambiente já está lutando para aguentar as demandas civis de 8 bilhões de habitantes anualmente. Apesar de existirem, sim, países com queda demográfica, há o equilíbrio global por aqueles que enfrentam uma superpopulação, como a Índia.
Além disso, muitos internautas se apavoram com o “Elite Package”, utilizando argumentos inspirados no darwinismo social ou, até, na própria Bíblia:
“Brincar de Deus nunca é uma boa ideia. Esse tipo de coisa pertence à natureza e ao incrível criador, o único, todo-poderoso Deus.”- Tweet retirado da própria rede social. Autor anônimo.
“É realmente assustador quando você pode selecionar as cores dos olhos, altura, cor da pele… do seu bebê. Que tempestade perfeita para um filme de terror que pode e vai acontecer na vida real.”- Tweet retirado da própria rede social. Autor anônimo.
Uma crítica com bases científicas traz relevância nos questionamentos: a mãe conseguirá amamentar o recém-nascido? A relação dos bebês com os pais, hoje desenvolvida no útero, será a mesma relação que eles terão quando o útero for artificial? Infelizmente, pela data recente do lançamento da notícia, ainda não há respostas para muitas das questões postas na mesa. Espera-se que, em breve, tudo seja respondido.
“Antes mesmo do nascimento, os bebês estão interagindo com as mães e aprendendo sobre o mundo fora do útero. Estudos mostraram que eles desenvolvem preferência por certas comidas e sabem a voz de suas mães antes de nascerem. O que seus cérebros vão absorver por uma bolha estéril?”- Tweet retirado da própria rede. Autor anônimo.
Por outro lado, alguns espectadores apoiaram a nova tecnologia, avistando os benefícios que as mulheres podem conquistar ao não ter que cultivar um feto no próprio útero, como não correrem mais riscos durante a gravidez, ou poderem participar ainda mais ativamente do mercado de trabalho.
“Muitas mulheres morrem durante a gravidez. O mundo precisa de úteros artificiais para salvar a vida de mulheres.”- Tweet retirado da própria rede social. Autor anônimo.
“Isso trará mulheres de volta ao mercado de trabalho. Ninguém deveria carregar tantos pounds por 9 meses, então empurrar para fora ou se cortar para tirar os bebês. Mulheres não são sacos de carregar bebês”. - Tweet retirado da própria rede social. Autor anônimo.
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