O fungo Cordyceps é uma das mais fascinantes e aterrorizantes criaturas da natureza. Seu ciclo de vida, que envolve manipulação do comportamento de insetos e sua morte inevitável, tem sido a inspiração para diversas obras culturais, incluindo a famosa série "The Last of Us". No entanto, a realidade por trás do fungo é tão intrigante quanto a ficção, e entender suas características e efeitos naturais pode proporcionar insights sobre como ele inspira o mundo do entretenimento.
O que é o “Cordyceps”?
O Cordyceps é um gênero de fungo parasita que se hospeda em diferentes espécies de insetos, o qual cada variação do fungo é especializada em um inseto diferente, como em formigas e lagartas. Os esporos liberados pelo Cordyceps hospedam o animal e o transformam em um tipo de zumbi, causando um comportamento violento com o objetivo de espalhar ainda mais esporos entre outros bichos invertebrados.
Ao se tornar hospedeiro do fungo, em muitos casos, o inseto será induzido a voltar ao seu ninho, onde estão os outros da sua espécie, para espalhar os esporos e infectar mais hospedeiros. A depender da variedade, a incubação do Cordyceps pode demorar até cinco dias, quando um ascoma (o corpo) do fungo começa a crescer pelo inseto e espalhar os esporos pela região — o crescimento do cogumelo pode durar entre uma e duas semanas.
Há cerca de 600 variedades do Cordyceps encontradas em diferentes regiões do mundo.
O ciclo mortal do Cordyceps
O gênero Cordyceps inclui uma variedade de fungos parasitas que afetam diferentes tipos de insetos, especialmente formigas, aranhas e até lagartas. O processo de infecção é altamente especializado e eficiente, levando a comportamentos grotescos e "zumbis". Quando o esporo do Cordyceps entra em contato com seu hospedeiro, ele se infiltra no corpo do inseto e começa a controlar seu sistema nervoso, manipulando seus movimentos de maneira precisa. Além de, na maior parte dos casos, forçar o inseto a escalar uma planta ou folha, onde ele morre com a mandíbula presa em uma posição fixa, permitindo que o fungo se espalhe ao longo da vegetação e infecte outros insetos. Esse processo de controle e morte é um exemplo extremo de parasitismo, com o fungo utilizando o corpo do inseto como uma espécie de "conduíte" para a propagação de seus esporos.
Em estudos recentes, como os realizados pelo Instituto Butantan e outras instituições, pesquisadores têm explorado como esse comportamento de "controle mental" tem um impacto tão profundo sobre as espécies afetadas. Embora o Cordyceps seja especializado em parasitar insetos, o fascínio pela manipulação de seus cérebros tem gerado especulações sobre como esses mecanismos poderiam teoricamente evoluir em outros organismos, incluindo os seres humanos, especialmente com as mudanças climáticas e a adaptação de fungos a novos ambientes([butantan.gov.br](https://butantan.gov.br/noticias/fungo-de-the-last-of-us-nao-e-perigoso-na-vida-real-e-alguns-do-mesmo-genero-sao-remedios)).
“The last of us” e a adaptação do Cordyceps
A série The Last of Us, seja no formato de videogame ou na adaptação para a televisão, baseia-se no conceito de um mundo pós-apocalíptico causado por um fungo do gênero Cordyceps, especificamente a espécie Ophiocordyceps unilateralis, mas de uma maneira muito mais destrutiva. Ao invés de afetar apenas insetos, a versão fictícia do fungo é capaz de infectar seres humanos, levando-os a um estado de comportamento irracional e violento, onde se tornam "zumbis" — criaturas descontroladas e mortas-vivas que atacam qualquer ser humano saudável. Essa ideia de um fungo capaz de manipular a mente humana remete diretamente aos efeitos observados nos insetos, mas a diferença principal é a adaptação dessa ficção científica para um cenário em que os fungos se tornam uma ameaça existencial para a humanidade.
No entanto, especialistas como os da Yale School of Public Health alertam que, enquanto a ficção apresenta uma versão exagerada e dramatizada do fungo, a realidade é bem diferente. Atualmente, os fungos do gênero Cordyceps não possuem a capacidade de infectar humanos, e os casos de infecção de mamíferos são extremamente raros e de difícil ocorrência. Ainda assim, é possível que o aumento da temperatura global e a modificação dos ecossistemas possam criar um cenário onde novos fungos mais adaptados ao clima humano possam surgir. Isso, no entanto, é uma possibilidade muito distante e nada comparável á ameaça representada em “The last os us”.
([medicine.yale.edu](https://medicine.yale.edu/news-article/the-last-of-us-apocalypse-is-not-realistic-but-rising-threat-of-fungal-pathogens-is)).
O impacto cultural do Cordyceps
Embora o Cordyceps não represente uma ameaça iminente para os humanos, a série The Last of Us aproveita a ideia do fungo como uma metáfora poderosa para o medo do desconhecido e a desintegração da civilização. A adaptação do fungo para infectar humanos oferece um ponto de partida para discussões sobre saúde pública, doenças infecciosas e as ameaças biológicas que poderíamos enfrentar no futuro.
A obra também toca em temas mais amplos, como a interconexão entre os seres humanos e o meio ambiente, e a possibilidade de as alterações ecológicas, como o aumento das temperaturas globais, criarem condições para o surgimento de novas doenças. Embora o cenário de apocalipse da série seja fictício, ele nos lembra das complexas relações entre os seres humanos e os organismos que habitam o nosso planeta, além de nos alertar sobre as consequências de ignorar as mudanças no equilíbrio natural.
Conclusão
O Cordyceps é um exemplo fascinante de como a natureza pode criar organismos com habilidades surpreendentes e, por vezes, aterrorizantes. Embora a versão fictícia do fungo em The Last of Us seja um exagero para fins dramáticos, ela se baseia em fenômenos reais observados no mundo natural, onde fungos manipulam suas vítimas de maneiras inimagináveis. A série e a biologia do Cordyceps nos convidam a refletir sobre o poder dos organismos microscópicos e como, em um futuro distante, os fungos poderiam, em teoria, representar uma ameaça mais ampla para a humanidade — mas por enquanto, isso continua a ser apenas ficção científica.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS
[1] [Instituto Butantan - Fungo Cordyceps: Realidade e Ficção](https://butantan.gov.br/noticias/fungo-de-the-last-of-us-nao-e-perigoso-na-vida-real-e-alguns-do-mesmo-genero-sao-remedios);
[2] [Yale School of Public Health - Rising Threat of Fungal Pathogens](https://medicine.yale.edu/news-article/the-last-of-us-apocalypse-is-not-realistic-but-rising-threat-of-fungal-pathogens-is);
[3] -[Mundo Educação - Cordyceps: O Fungo do Apocalipse](https://mundoeducacao.uol.com.br/biologia/cordyceps.htm);
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