Em 1610, Galileu Galilei apontou sua luneta primitiva em direção a Júpiter. Como descrito pelo astrônomo, “três estrelinhas” estavam perto do planeta. Por serem visíveis apenas com o uso de telescópios, o pai da astronomia moderna imaginou que fossem astros localizados a milhões de quilômetros. A grande surpresa veio nos dias seguintes, Galileu seguiu observando o gigante gasoso e ficou impressionado ao descobrir que os três pontos brilhantes viraram quatro, sendo que todos se movimentavam ao redor de Júpiter.
[1] órbita das luas galileanas ao redor de Júpiter
A descoberta foi responsável por confirmar uma das maiores revoluções na Astronomia. Ao observar outros corpos celestes orbitando um objeto que não era a Terra, Galileu também comprovou a Teoria Heliocêntrica, defendida por Nicolau Copérnico. No fim, o que Galileu revelou foram as quatro maiores luas de Júpiter: Europa, Io, Calisto e Ganimedes. Ao todo, o planeta ostenta 92 satélites naturais, entretanto, a maioria é apenas pedaços de rochas com diâmetro de poucos quilômetros.
O interesse em estudar as luas galileanas é proveniente de missões anteriores que revelaram potencial dos corpos celestes, na área da astrobiologia, ao desvendar possíveis oceanos congelados embaixo da superfície dos satélites. Durante a primeira década do século XXI, a National Aeronautics and Space Administration (NASA) e a European Space Agency (ESA) trabalharam juntas em uma missão colaborativa que levava o nome de Europa Jupiter System Mission (EJSM- Laplace). O projeto contava com dois satélites que orbitariam Europa e Ganimedes. Problemas de financiamento fizeram com que a NASA se retirasse da parceria em 2015. Diante da saída, a ESA trabalhou em uma remodelagem da EJSM- Laplace, e a mudança resultou no início da missão Juice Icy Moons Explorer (JUICE).
[2] ilustração da sonda JUICE, da ESA, viajando pelo sistema lunar Joviano
Após muito planejamento, a missão JUICE está programada para ser lançada dia 13 de abril de 2023, em um foguete Ariane V que decolará do Espaço Porto, na Guiana Francesa. A sonda viajará ao redor de Júpiter e explorará três de suas luas: Europa, Calisto e Ganimedes.
A aventura inicia-se logo no lançamento, o momento mais arriscado da missão, como descreve o cientista Oliver Witasse: "Para mim, a fase de lançamento é a mais crítica, deve confiar-se no lançador que deverá lançar-nos, fugir à gravidade terrestre e enviar-nos numa boa trajetória.”. Após o lançamento, a nave sobrevoará a Terra e Vênus algumas vezes para realizar manobras de assistência gravitacional que serão essenciais para a chegada em Júpiter, prevista para dezembro de 2031.
O satélite JUICE irá verificar a existência de água no estado líquido nas luas
Europa e Ganimedes: "Europa e Ganimedes são muito bons exemplos da possibilidade de existir água no estado líquido por baixo da superfície. A única coisa que precisamos descobrir é a que profundidade podemos encontrá-la, em relação à superfície, qual é a sua extensão e se existe vida, organismos originários desta água líquida, dentro dos oceanos subterrâneos, nestas luas geladas", explica Athena Coustanis, responsável pela investigação do Centro Nacional de Investigação Científica (CNRS).
[3] hipotético oceano congelado abaixo da superfície da lua Europa
Além desses dois destinos, a sonda passará a maior parte da sua estadia no sistema Joviano, visitando Ganimedes. O maior satélite do Sistema Solar também é um dos três únicos astros rochosos que possuem campo magnético na vizinhança. Se for possível encontrar água líquida debaixo da superfície, a lua galileana torna-se uma grande candidata à habitabilidade de seres vivos. Ao entrar em órbita, a JUICE também coletará informações sobre a atmosfera, campo magnético, rotação e gravidade do satélite natural.
[4] campo magnético de Ganimedes
O trajeto da sonda inclui dois sobrevoos por Europa, ficando a 400 km de sua superfície; vinte e uma passagens por Calisto e doze por Ganimedes, finalizando o trajeto entrando em sua órbita. A missão está prevista para acabar em 2035, quando o combustível da nave se esgotar, resultando na sua queda na superfície de Ganimedes e encerrando a primeira missão com destino à maior lua do sistema solar.
A ESA transmitirá a decolagem do foguete no site (https://www.esa.int/ESA_Multimedia/ESA_Web_TV) e no canal da agência europeia (Juice launch to Jupiter). O lançamento está previsto para o dia 13 de abril, às 8h45 do horário de Brasília. O início da jornada será registrado pelo Projeto Virtual Telescope, a transmissão durará das 13h até às 16 h, no canal (https://www.youtube.com/@GianMasiVirtualTelescope/featurd).