Muitas crianças já assistiram à aclamada animação produzida em 2008 pela Pixar Animation Studios: Wall-E. O pequeno robô marcou uma geração com a sua coragem e empatia, sendo uma figura de inspiração na preservação do meio ambiente. Além disso, um aspecto abordado no filme foi o uso tecnológico excessivo por parte dos humanos, que se tornaram reféns do sedentarismo, pois os robôs realizavam todas as atividades básicas para eles. Como consequência, até mesmo o ``pensar`` tornou-se uma atividade tediosa, enfraquecendo o desejo de olhar o mundo em volta. A pergunta chave seria: a ficção está se encaixando à realidade? Uma preocupação para a geração presente e um medo para as gerações futuras.
Figura 1 - Imagem da animação Wall-E, produzida pela Pixar Animation Studios em 2008.
Aplicativos de mensagens, redes sociais, jogos online e, principalmente, a inteligência artificial foram projetos revolucionários realizados pelo ser humano, criados com o intuito de facilitar atividades cotidianas, como aprender, divertir e comunicar. Tendo em vista os últimos 20 anos, o crescimento populacional das ferramentas citadas acima foi extraordinário, principalmente as redes sociais, pois cerca de 144 milhões de brasileiros, ou seja, 66,3% da população, possuem usuários de rede. Esse crescimento exponencial alavancou inúmeros segmentos, como de negócios virtuais, notícias e personalidades digitais, sendo todos esses setores incluídos em uma plataforma.Isso pode ser uma grande fonte de dopamina, neurotransmissor ligado ao prazer, ou, no caso, prazer artificial, como um comentário ou curtida em uma postagem, sendo um fator chave para a formação de um vício. O grupo que tende a se prejudicar com esse fator seria a Geração Z, pessoas nascidas entre 1995 e 2010, que foram imersas nessa realidade.
As telas, sejam de smartphones ou computadores, tornaram-se as melhores amigas de milhões de jovens ao redor do mundo, fazendo com que eles prefiram realizar atividades virtuais em vez físicas, pois não necessitam de muito esforço. No entanto, isso pode acarretar muitos problemas, como baixo bem-estar psicológico, falta de curiosidade, baixo autocontrole, mais distração, mais dificuldade em fazer amigos, baixa estabilidade emocional, dificuldade de se importar por algo e dificuldade em terminar uma atividade. A soma de todos, ou alguns desses pontos, podem levar a transtornos psiquiátricos, como depressão e ansiedade, que são, infelizmente, comuns na juventude contemporânea.
Como já dizia um dos maiores poetas da língua portuguesa, Fernando Pessoa: ``O amor é bom, mas é melhor o sono``. O sono é simplesmente um combustível essencial para a vida de muitos seres vivos, incluindo os humanos, pois ele beneficia aspectos fundamentais para uma vida saudável, como a melhora da concentração e produtividade, aumento da imunidade e, principalmente, o equilíbrio psíquico e emocional. Tendo isso em vista, as telas que iluminam as noites e madrugadas de muitos jovens ao redor do mundo podem ser um grande problema para o crescimento deles, já que não recebem os benefícios de uma boa noite de sono. Com base nisso, foi comprovado que cada hora dedicada às telas digitais foi associada a 3 a 8 minutos a menos de sono noturno e a níveis mais baixos de consistência do sono.
Figura 2 - Criança usando celular na cama.
Aquilo que muitas vezes pode servir para relaxar, naturalmente, causa um certo vício por conta do prazer instantâneo. A tecnologia não fica atrás nessa categoria, principalmente, em seu uso recreativo, como jogar online e deslizar as centenas de vídeos curtos nas redes sociais, devido a descarga de dopamina e ao desejo de repetir a sensação sempre. Como consequência de qualquer tipo de vício, os problemas não demoram a surgir, como o aumento nos sintomas de déficit de atenção, transtorno que vem se escalando ao longo dos anos, em paralelo com a facilidade tecnológica. Segundo a pesquisa realizada em 2023 pela Universidade McGill, localizada em Montreal, Canadá, o Brasil é o quarto país com maior número de viciados em smartphones, perdendo somente para a Malásia, Arabia Saudita e China.
Figura 3 - Gráfico dos países com mais viciados em smartphones.
Em alguns casos, o estado mental pode ser afetado drasticamente, danificando tópicos essenciais para os seres humanos, como a noção social. Os próprios bate-papos, presentes em inúmeras plataformas virtuais que facilitam a comunicação de pessoas ao redor do mundo, também podem refletir a superficialidade de uma conversa, pois muitas vezes as emoções expressadas por emojis não condizem com a emoção real. Além disso, em casos extremos, existem pessoas que se sentem mais confortáveis conversando com alguém ou um grupo de pessoas através de telas, ou até mesmo com pessoas próximas, como os familiares e amigos. Hoje em dia, devido ao avanço tecnológico, empresas estão desenvolvendo realidades virtuais, ou seja, um mundo fictício o qual a pessoa poderá viver, tornando ainda mais imersivo com a utilização de óculos de realidade virtual, onde a pessoa pode chamar de ``vida``, causando problemas como uma crise existencial.
Figura 4 - Pessoa utilizando óculos de realidade virtual.
Algumas pessoas ainda acreditam que a tecnologia pode ser inofensiva para os jovens, justamente por não demonstrar ser algo perigoso na vida de uma parcela da população, mas, ao mesmo tempo, escondido nos pixels, existe um vício tóxico e, em alguns casos, fatal. No dia 19 de março de 2022, em Patos, no Sertão da Paraíba, um adolescente de 13 anos de idade acabou com a vida de sua mãe, de 47 anos, e do seu irmão mais novo, de apenas 7 anos de idade, além de ter deixado seu pai paraplégico. Qual seria o motivo que acarretou essa tragédia brutal? Simplesmente, porque os pais proibiram-no de usar o celular para jogar jogos virtuais e conversar com os colegas pelas redes sociais, para que ele melhorasse o rendimento escolar. Mesmo sabendo da extremidade desse caso específico, isso serve de alerta sobre a dependência de crianças e adolescentes da geração atual em relação à vida virtual.
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