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Júlia Demarch

Big Brother Brasil: Do entretenimento ao experimento social

O Big Brother Brasil é atualmente o reality show mais famoso do Brasil, a versão brasileira da franquia “Big Brother” (idealizada pelo neerlandês John de Mol). O show televisivo é inspirado no “Grande irmão”, um olho que tudo vê dentro da obra “1984” de George Orwell, a mesma explora relações de poder em um contexto distópico. De forma análoga ao livro inglês, o reality brasileiro também explora relações de poder, porém, essas relações estão inseridas na famosa indústria cultural, ou seja, no elo entre mídia e público.


De modo geral, o programa se baseia na confinação dos participantes em uma casa, e a cada semana um dos brothers (apelido dado aos participantes do reality) é eliminado pelo público, assim, dentre os três últimos, apenas um irá ganhar o prêmio de 750 mil reais. Ao longo do reality ocorrem várias provas que visam eleger um líder na casa, que obviamente terá alguns privilégios (isso será abordado mais à frente). Não surpreendentemente, todas as provas exigem um bom condicionamento físico, e são constituídas de corridas, resistência e outros.


Figura 1: Prova do líder de resistência.



As novas tendências da indústria cultural clamam pela espetacularização do cotidiano, sobretudo em realitys, onde praticamente não há espaço para o privado. Além disso, é de se destacar a transformação do espectador de indivíduo passivo para ativo, participando da tomada de decisões no que tange o programa, como, por exemplo, quem será eliminado do reality ou não. Entretanto, esse “poder de escolha” se assemelha à tática de dar um “falso poder” para alguém ou um grupo de pessoas, afinal, as câmeras só mostram o que é conveniente para a mídia e assim aumentar a audiência. Nesse sentido, o telespectador só tem acesso ao que lhe é mostrado então, dado esse cenário, existe uma liberdade de escolha para o público?


Seguindo o raciocínio, com o surgimento da TV, a indústria cultural dá um grande passo, que se antes era preciso sair de casa para ir ao cinema, a televisão acaba com essa ideia arcaica, fundindo a vida privada com a do público. Adorno e Horkheimer, criadores da expressão “indústria cultural”, enxergavam a mídia como uma forma de dominação; porém, por quê a mídia é uma forma de dominação? Diante da imersão em situações tidas como banais e com o mesmo modo de representação, não há espaço para algo que fuja dos padrões culturais impostos. Assim a instrumentalização da mídia se torna essencial, uma vez que ela induz o povo a não pensar por si só, mas a consumir cegamente cada vez mais os conteúdos das redes para a geração de lucro. 


Além disso, é de extrema importância ressaltar as predisposições midiáticas para alcançar uma audiência satisfatória, o que chama mais sua atenção, pessoas que conseguem conviver de uma forma razoavelmente agradável ou inúmeras brigas? Com certeza, a segunda. E como é de conhecimento comum, audiência e dinheiro são ambas grandezas proporcionais entre si, logo, havendo um esforço a mais por parte da produção para criar esses momentos de tensão entre os participantes. Como prova disso, há uma nova “interação” no programa que se chama “Sincerão”, no qual esse quadro faz alguns brothers responderem perguntas, tais como “Quem é o inútil da casa?” ou “Quem nunca irá ganhar?”. Não é de se espantar que tais perguntas e respostas criem discórdia dentro da casa, porém, é de se destacar a forma ofensiva como isso acontece, de uma forma que visa atingir o particular, tornando o impessoal em pessoal.


Ilustração do “Sincerão”



Fonte: Globo

  

Mas você já parou para pensar sobre os participantes? Eles representam, de fato, o Brasil em que vivemos atualmente? Grande parte dos brothSSers se encaixa em um espectro social pouco comum no Brasil, se encontram com boas condições financeiras, são solteiros (a formação de casais é outro trunfo para a audiência) e dispostos a passar meses longe de casa, com algumas exceções, é claro. A falta de pessoas com deficiência e pessoas idosas também é outro recorte social exposto no programa e com isso, há a clara inserção de pessoas que possuem um esteriótipo midiático. Os produtores prezam por um fator estético, sobretudo em relação às mulheres, em que muitas brothers do Big Brother Brasil 24 têm ou já tiveram uma carreira como modelo; e como o reality explora o cotidiano, os corpos e padrões alimentares das participantes também são explorados pela mídia. Ademais, as provas semanais do líder tem grande relação com essa pressão estética, como utilizam do condicionamento físico dos mesmos, treinar e se manter em “forma” é indispensável, tanto para os testes quanto para agradar a audiência.  


O líder, que é o vencedor da prova que conta com habilidade físicas, pode indicar um participante para o “paredão”, e então o público vota para eliminar o brother mais indesejado na casa. Adicionalmente, o mesmo fica em um quarto VIP (no qual pode convidar seus aliados) o qual tem acesso a filmes e outras regalias. Com isso, é evidente que o jogo necessita manter antagonismos para desencadear uma “trama”, e utilizar um líder é uma dessas ferramentas.


Com o avanço da tecnologia há também a modificação da interação entre os brothers. Um celular é dado a cada participante com um aplicativo semelhante ao “Instagram”, onde se pode curtir e marcar pessoas em stories. Contudo, essa mudança na interação entre os participantes se assemelha muito às nossas tendências comunicativas atuais, em que o número de seguidores e curtidas expressa um claro sinal de popularidade e, como de costume, só é mostrado o que se quer mostrar, ou seja, apenas as felicidades e conquistas.


O Big Brother Brasil se manifesta como um claro reflexo da sociedade brasileira contemporânea, evidenciando desigualdades econômicas, regionais e raciais, assim como a tendência à polarização e hostilização de membros não desejáveis. 




Referências Bibliográficas


[1] MOREIRA, Thays; RIOS, Riverson. Big Brother Brasil e as Relações Entre Poder e Mídia: Onde Termina o Entretenimento e Começa a Violência?. Disponível em: artigo final intercom (ufc.br)


[2]  ALMEIDA, Katianne de Sousa. PERSONAGENS EMOLDURADAS: OS DISCURSOS DE GÊNERO NO BIG BROTHER BRASIL. Disponível em: Microsoft Word - 1277732225_ARQUIVO_Modelo_Texto_Competo_FG9-PERSONAGENSEMOLDURADASOSDISCURSOSDEGENERONOBBB.doc (dype.com.br)




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