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Vinícius Meireles Aun Carteiro

Associação entre Redes Sociais e a Psicanálise Forense, Metodologia Investigativa

Resumo


Nos estudos de caso, um papel fundamental da forense é identificar a origem da questão em análise. Este artigo permite investigar em profundidade os motivos psicológicos e fatores que levaram um indivíduo a tomar determinada ação. Através da análise de redes sociais, é possível acessar uma ampla gama de evidências que auxiliam na busca por respostas. Consequências mentais negativas geradas nas interações digitais, como insatisfação, ansiedade e depressão, podem levar a condutas desastrosas, afetando diretamente o hipocampo e o córtex pré-frontal do cérebro. São discutidas técnicas de engenharia social e seus métodos de atuação, com ênfase nos esquemas criminosos atuais. Os resultados mostram, em sua maioria, que esses distúrbios influenciam significativamente as ações humanas, sendo papel da investigação forense coletar dados relacionados à personalidade e ao comportamento social por meio de informações online, além de disseminar esse conhecimento para o progresso científico.


Palavras-Chave: redes sociais, consequências mentais, investigação.



Abstract


In case studies, forensics plays a fundamental role in identifying the root cause of the issue under analysis. This article allows for an in-depth investigation of the psychological motives and factors that led an individual to take a particular action. By analyzing social media, a wide range of evidence can be accessed to aid in the search for answers. Negative mental consequences generated by digital interactions, such as dissatisfaction, anxiety, and depression, can lead to disastrous behaviors, directly affecting the hippocampus and prefrontal cortex of the brain. Techniques of social engineering and their methods of operation are discussed, with an emphasis on current criminal schemes. The results largely indicate that these disorders significantly influence human actions, making it the role of forensic investigation to collect data related to personality and social behavior through online information, as well as to disseminate this knowledge for scientific progress.


Keywords: social media, mental consequences, investigation.






1.INTRODUÇÃO


Na neurociência atual, o cérebro humano é formado por cinco divisões: frontal, parietal, temporal, occipital e insular. A área responsável por determinar a tomada de decisões, a sociabilidade e o controle emocional é o córtex pré-frontal, localizado na região do lobo frontal. Essa é uma estrutura detalhada, composta por neurônios, células gliais, camadas corticais e conexões sinápticas.

Embora o córtex pré-frontal possua complexas conexões nervosas, experiências que impactam sentimentos e emoções influenciam significativamente na tomada de decisões diárias. Isso é evidenciado em estudos ainda não refutados pela ciência, como no capítulo 3 de The Role of Affect in Decision Making ou Affect and Decision Making.


Considerando que mais de 60% da população mundial é usuária de redes sociais, é possível extrair informações valiosas sobre um suspeito. Embora pessoas comuns possam adotar perfis discretos, os chamados “low profile” são comumente utilizados por indivíduos mal-intencionados. Esses perfis geralmente se caracterizam pelo hábito de não se expor nas redes, deixando poucos detalhes sobre sua vida.


Figura 1 - Gráfico da “cultura alternativa” sobre o número de usuários de internet por ano.


Grande parte da população idosa usuária de redes sociais relata ter sofrido algum tipo de golpe online. Entre os mais comuns, destacam-se os anúncios de produtos falsos em lojas digitais. Por meio de anúncios altamente escaláveis, esses golpes induzem a pessoa a clicar em uma página que direciona para um site malicioso, onde seus dados pessoais podem ser roubados.


Os responsáveis por esses esquemas são criminosos cibernéticos que se escondem por trás de sistemas de segurança digital. Frequentemente, eles utilizam uma VPN (rede virtual privada), que impede o rastreamento do endereço IP do usuário. Esse problema tem se tornado cada vez mais frequente, impactando negativamente a vida dos cidadãos de bem.


No entanto, é possível aplicar métodos investigativos que buscam explorar brechas deixadas pela escassez de informações. Isso pode ser feito por meio dos perfis de pessoas próximas ao suspeito, que publicam regularmente em suas redes. Nesse contexto, a investigação forense pode atuar, realizando pesquisas detalhadas ou até se passando por outra identidade para alcançar um bem maior.


2.METODOLOGIA


Ao acessar redes sociais populares, depara-se com uma página de criação de perfil, onde é possível adicionar nome, foto e uma breve descrição. Com o perfil criado, pode-se realizar uma pesquisa rápida na aba de busca. Se nada for encontrado, é recomendável procurar parentes, amigos ou pessoas relacionadas, o que aumenta as chances de obter informações mais precisas.


Vale ressaltar que as páginas seguidas por um usuário são de extrema importância. Se essas páginas tiverem um conteúdo específico, é possível associar esse conteúdo a traços da personalidade do investigado, pois o que é consumido online influencia o comportamento cotidiano.


Um dos aspectos mais relevantes da investigação é a prática da Engenharia Social, uma área em expansão que busca acessar dados privados, como informações financeiras, para beneficiar o criminoso. Para combater esses golpes, é essencial compreender as metodologias empregadas. Em geral, os métodos mais comuns incluem o uso de softwares, links atraentes e fraudes por telefone.


O grande desafio é que essas ações fazem parte do “Hacking humano”, uma prática ilícita que os profissionais de cibersegurança não conseguem combater totalmente, pois envolve manipulação psicológica. Nesse contexto, o criminoso cria uma conexão com a vítima, influenciando seu subconsciente e muitas vezes gerando sentimentos que facilitam a fraude.


Entre as técnicas utilizadas, destacam-se a persuasão e o phishing. A persuasão é uma técnica clássica que induz a vítima a tomar decisões que beneficiam o criminoso. Já o phishing é um tipo de ataque cibernético em que a vítima é levada a fornecer senhas, números de cartões ou dados bancários. Os criminosos lançam a “isca” por meio de e-mails ou SMS, direcionando a vítima a um site malicioso onde insere suas informações.


Embora alguns cientistas forenses optem por coletar dados objetivos, como placas de carro ou endereços, esses são apenas elementos complementares. É igualmente importante compreender a identidade e a natureza da pessoa investigada, pois isso facilita a análise e compreensão do caso.


Figura 2 - Imagem ilustrativa do AbcMed sobre personalidade.


3.RESULTADO


Os estímulos dopaminérgicos provocados pelas técnicas sedutoras da engenharia social ativam vários sistemas de recompensa no cérebro humano, sendo o Núcleo Accumbens o principal. Esta estrutura, localizada no prosencéfalo, está intimamente ligada à percepção sentimental e ao desenvolvimento de vícios, pois é capaz de gerar impulsos nervosos que exigem novos estímulos para satisfazer necessidades. Esse processo se relaciona diretamente com o impulso para a compra de produtos ou assinaturas online, pois, ao serem apresentados de forma atraente, induzem quimicamente o cérebro a realizar a ação.


Após a execução de um golpe, o procedimento mais comum é notificar as autoridades. Dois grupos principais são responsáveis por lidar com o caso: os especialistas em cibersegurança e os investigadores forenses. Os profissionais de cibersegurança investigam o "hacking" do sistema do suspeito, identificando vulnerabilidades, enquanto os investigadores forenses se concentram nos aspectos psicológicos e nos rastros físicos e digitais deixados pelo criminoso.


O estudo de caso envolve três áreas principais de investigação. A primeira é a coleta do máximo possível de informações sobre o suspeito na internet, desde publicações até páginas seguidas. A segunda envolve a vítima, cujos dados são obtidos como parte padrão do processo. A terceira área analisa as técnicas e os métodos utilizados no golpe, como os sites ou e-mails empregados. Isso permite que os especialistas em cibersegurança se atualizem sobre novos métodos e elaborem estratégias de combate para o futuro.


Como consequência da análise, é possível obter um número maior de evidências e uma compreensão mais profunda sobre a personalidade do investigado, especialmente em relação às suas interações sociais online e aos padrões comportamentais. Além dos métodos tradicionais de coleta de provas digitais, os resultados indicam que a análise detalhada dessas interações pode revelar sutis padrões comportamentais que, muitas vezes, não são percebidos em investigações convencionais.


Por exemplo, alterações na frequência e no tom das postagens, a repetição de certos temas e até mesmo a escolha de palavras-chave podem sinalizar mudanças emocionais ou intenções criminosas. Tais descobertas sugerem que, ao combinar técnicas de análise de linguagem natural e monitoramento de redes sociais, os investigadores podem antecipar comportamentos de risco com maior precisão, proporcionando uma resposta mais ágil e personalizada. Essa abordagem é especialmente útil em casos de fraudes, onde o tempo é um fator crítico para minimizar danos.


O monitoramento contínuo das mudanças rotineiras e das relações interpessoais dos suspeitos também é essencial. Isso permite não só prever os próximos passos dos criminosos, mas também identificar potenciais cúmplices e outros grupos envolvidos, influenciando diretamente as decisões jurídicas tomadas em tribunal. Esses processos, naturalmente, devem ser conduzidos por profissionais forenses experientes e investigadores especializados.


Figura 3 - Ilustração da “personal marketing digital” sobre o monitoramento digital.


4.CONCLUSÕES


O mundo está em constante transformação. À medida que a tecnologia avança rapidamente, populações ao redor do globo adotam essas inovações em suas vidas diárias, o que reformula como as pessoas se comunicam, interagem e até cometem crimes. Consequentemente, agentes de segurança e profissionais da lei precisam atualizar continuamente suas habilidades e ferramentas para acompanhar essas mudanças e permanecer eficazes em suas práticas investigativas. Essa necessidade de adaptação é particularmente pronunciada em regiões onde o acesso à tecnologia é limitado. Nessas áreas, a disparidade na capacidade investigativa, quando comparada a locais com infraestrutura tecnológica mais avançada, apresenta desafios significativos no combate ao crime. Esse cenário destaca a importância de garantir acesso equitativo a avanços tecnológicos para fortalecer esforços globais de investigação.


Complementando os achados deste estudo, o uso de redes sociais para fins forenses vai além da coleta de dados públicos. A análise de interações, padrões de comunicação e estados emocionais em posts e comentários revela insights valiosos sobre o comportamento. Ao cruzar essas informações com outras técnicas forenses, como análise de comportamento e antecedentes digitais, os investigadores obtêm uma visão mais holística das motivações dos envolvidos. Esse tipo de análise integrada é eficaz, especialmente em investigações de crimes cibernéticos, onde o rastro digital é, muitas vezes, a única evidência disponível. A tecnologia em constante evolução desafia a ciência forense a inovar continuamente para acompanhar novas formas de manipulação e ocultação de informações online.


Além disso, o uso de redes sociais na análise forense permite uma abordagem preventiva. Monitorar comportamentos suspeitos e padrões digitais ajuda a detectar indícios precoces de intenções criminosas ou vulnerabilidades psicológicas. Essa abordagem preditiva contribui para a criação de sistemas de segurança mais eficazes e pode orientar políticas públicas para proteger os usuários online, especialmente os mais vulneráveis, como os idosos. Assim, a ciência forense aliada à análise comportamental digital assume um papel essencial na segurança pública e no aprimoramento das práticas investigativas.


A disseminação de conhecimento técnico deve ser tratada como uma prioridade, especialmente para os mais idosos, que precisam estar cientes das diferentes formas de golpes para evitar problemas futuros. Iniciativas voltadas à inclusão digital são bem-vindas nesse contexto.


O uso de redes sociais como ferramenta forense é essencial para investigações modernas, sobretudo em crimes cibernéticos. A combinação de técnicas de psicanálise com a coleta de dados digitais permite uma compreensão mais profunda das motivações e padrões de comportamento. Futuros estudos devem explorar o uso de inteligência artificial para automatizar a identificação de perfis de risco, ampliando ainda mais o alcance dessa metodologia.


Por fim, é crucial que instituições de ensino e profissionais da área forense promovam formação contínua em habilidades digitais e analíticas, preparando as novas gerações para os desafios da era digital. A interdisciplinaridade entre psicologia, tecnologia e direito deve ser incentivada, formando um conhecimento que aborde não apenas a investigação criminal, mas também estratégias de prevenção. A colaboração entre agências de segurança, pesquisadores e a comunidade é vital para criar um ambiente mais seguro, onde a proteção contra crimes cibernéticos seja uma prioridade compartilhada. Adaptando-se e incorporando novas abordagens, a ciência forense estará melhor preparada para enfrentar os desafios do futuro e garantir a justiça em um mundo digitalizado.






REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


[1] Lerner, J. S., Li, Y., Valdesolo, P., & Sherman, D. K. (2015). The Role of Affect in Decision Making. Journal of Behavioral Decision Making, 28(2), 125-137. doi:10.1002/bdm.1898. 


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