É indiscutível, entre a comunidade científica, que a água é um dos componentes mais essenciais para a vida. Ainda não existe um consenso sobre a origem da água no Sistema Solar, o que se deve ao fato de que, a depender do estado que a matéria se encontra, sua detecção é muito difícil. É preferível, e até mais efetivo, analisar a substância universal em seu estado gasoso. Entretanto, na maioria dos discos de formação planetária, a água é encontrada no estado sólido, o qual torna a identificação mais complicada.
As respostas necessárias para continuar o estudo da origem deste elemento tão importante não podem mais ser encontradas no Sistema Solar, já que o estágio de desenvolvimento que ele se encontra não é favorável para este tipo de análise. Com isso, a solução encontrada foi procurar outros sistemas planetários em formação.
Os astrônomos, utilizando as antenas do Atacama Large Millimeter Array (ALMA), observaram a jovem estrela V883 Orionis com o intuito de estudar o disco de formação planetária. Quando uma nuvem de poeira e gás colapsa, uma estrela é formada em seu centro. Ao redor da estrela, o material restante é organizado em uma estrutura, a qual, posteriormente, originará outros corpos celestes , que recebe o nome de de disco de formação planetária.
[1] De nuvens de gás a discos a sistemas planetários
Em um artigo publicado na revista Nature, John J. Tobin, astrônomo do National Radio Astronomy Observatory, e sua equipe conseguiram detectar, no disco da V883, água em estado gasoso. Normalmente, a substância universal só é encontrada nesta configuração no centro do disco, local onde a observação é quase impossível uma vez que as assinaturas químicas da molécula ficam escondidas pela estrutura do disco. Entretanto, por ser uma estrela jovem, a V883 é um corpo celeste muito agitado, tornando as explosões de calor um fenômeno frequente. Essas explosões aquecem o disco protoplanetário, logo, a água que estava no estado sólido sofreu um processo de evaporação, possibilitando a detecção e inquirição da substância no estado gasoso.
Majoritariamente, a água é formada por dois átomos de Hidrogênio e um de Oxigênio. No caso da amostra encontrada por Tobin e sua equipe, os átomos de Hidrogênio foram substituídos pelo Deutério, um isótopo mais pesado do Hidrogênio, formando a “água pesada”. Como a água simples e pesada são formadas sob condições diferentes, a proporção entre elas pode ser analisada para rastrear quando e onde as substâncias foram construídas. Essa técnica auxiliou no desenvolvimento da hipótese de que a água presente na Terra é proveniente de cometas do Sistema Solar. A ligação entre os cometas e os planetas já estava explícita, mas faltava um elo entre as estrelas jovens e o viajante interplanetário.
[2] Água no disco de formação de planetas em torno da estrela V883 Orionis
Ao estudar a V883 Orionis e seu disco, a equipe liderada por Tobin completou o quebra-cabeça: “A composição da água no disco é muito semelhante à dos cometas do nosso próprio Sistema Solar. Esta é a confirmação da ideia de que a água nos sistemas planetários se formou há bilhões de anos, antes do Sol, no espaço interestelar, e foi herdada tanto pelos cometas quanto pela Terra, relativamente inalterada", explicação fornecida pelo líder da equipe, John J. Tobin.
Os autores da pesquisa ainda enfatizam que estão ansiosos para utilizar o Extremely Large Telescope (ELT), que será o maior e mais potente equipamento de observação já construído. O telescópio contará com o instrumento de infravermelho METIS, que ajudará a desvendar os caminhos da água desde a nuvem de formação de estrelas até os sistemas planetários.
REFERÊNCIAS
[1] Astronomers find missing link for water in the Solar System, 8 de mar. 2023. ESO, Disponível em: https://www.eso.org/public/news/eso2302/. Acesso em 11 de mar. 2023.
Um produto de grande importância para a vida não poderia ser um recém nascido. Mais sim um produto da antiguidade conforme me esclarecesse. Obrigado aos jovens cientistas.