Revolucionárias, as células HeLa foram a primeira linhagem celular contínua cultivada com sucesso. Seu êxito permitiu o estudo de diversas doenças como, por exemplo, o câncer, o HIV e o HPV. Outros avanços incluíram o desenvolvimento de vacinas; o mapeamento de genes humanos; o desenvolvimento de práticas de congelamento e cultivo de células e tecidos; entre outros. Espalhadas pelo mundo todo, estima-se que foram utilizadas em cerca de 74 mil pesquisas científicas. Elas, inclusive, já estiveram no espaço mais de uma vez, lançadas primeiro em 1961, na primeira missão espacial tripulada da história, para a análise do efeito da gravidade sobre as células.
Apesar de todos os avanços que as células proporcionaram, sua origem não foi ética. Henrietta Lacks era uma mulher americana de apenas 30 anos quando, em 1951, foi ao Hospital John Hopkins, o único a tratar afro-americanos na época, e descobriu um câncer de colo de útero. Diferente de qualquer câncer já visto antes, o dela era roxo e sangrava quando tocado. O tumor não respondeu bem ao tratamento e Henrietta morreu em outubro daquele mesmo ano.
Ainda em vida e sem seu conhecimento e consentimento, o médico Dr. Howard Jones, responsável pelo caso, retirou um pedaço do tecido cancerígeno de seu útero para biópsia. Ele as entregou ao biólogo celular Dr. George Otto Gey do mesmo hospital, que ficou espantado com as habilidades das células de se multiplicarem e as manteve em cultivo, nomeando-as como “HeLa”, que faz menção às duas primeiras letras dos nomes da paciente.
Essa amostra cultivada em laboratório foi a pioneira e recebeu um enorme interesse por parte da comunidade científica, sendo vendida posteriormente para diversos laboratórios no mundo todo, de tal modo que estão vivas até os dias de hoje, após mais de 70 anos de sua morte.
Isso porque, diferentemente de outras células cancerígenas que, quando fora de um organismo, se dividiam algumas vezes e morriam antes de serem estudadas, as de Lacks se multiplicavam com uma velocidade impressionante desde que estivessem sendo alimentadas com os nutrientes necessários. Apesar do câncer, as células HeLa ainda possuem muitas características básicas encontradas nas células normais. Dessa forma, foi possível utilizá-las para o estudo não apenas do câncer, como também de outras doenças e características humanas.
Sua primeira aplicação foi à vacina da poliomielite. A doença em questão era temida no século XX por causar a paralisia infantil. Em 1954, o virologista Jonas Salk criou uma vacina com o vírus inativado, mas antes que fosse aplicada em humanos, seriam necessários vários testes com várias células. As HeLa, recentemente descobertas, foram utilizadas para isso devido a seu rápido crescimento e a sua grande suscetibilidade ao vírus, contribuindo para a disponibilização da vacina muito antes do que se era esperado.
Como na época em que a biópsia foi feita não havia legislação específica sobre o assunto, foi apenas em 1973 que a sua família descobriu sobre o ocorrido e da existência das células ainda vivas e espalhadas pelo mundo de Henrietta. Seu marido, que não tinha terminado a escola e não sabia nem o que era uma célula, foi informado de que sua esposa estava viva em um laboratório e que a utilizavam na pesquisa científica havia 20 anos. A descoberta foi um verdadeiro choque de culturas.
Henrietta Lacks nunca soube do que lhe foi feito e, apesar de involuntária, sua contribuição à ciência foi extremamente significativa.
FONTES:
Boa Lu, ficou incrível!