A neuroplasticidade, também conhecida como plasticidade cerebral, é a capacidade do cérebro de se adaptar e se reorganizar ao longo do tempo, tanto em termos de estrutura, quanto de função. Este conceito é fundamental para a compreensão do aprendizado, memória e recuperação após lesões cerebrais. Nos últimos anos, a pesquisa em neuroplasticidade tem crescido exponencialmente, resultando em novas descobertas e aplicações práticas.
A neuroplasticidade é um processo contínuo que ocorre em resposta a estímulos e experiências, permitindo que o cérebro humano se adapte às mudanças ambientais e às necessidades individuais. Essa capacidade de se modificar pode ocorrer em diferentes níveis, incluindo mudanças nas conexões sinápticas, na morfologia dos neurônios e na formação de novas redes neurais. A adaptação é mediada por uma série de mecanismos moleculares e celulares, como a expressão de genes, a liberação de neurotransmissores e a interação entre células do sistema nervoso (como células gliais). Um exemplo é a neurogênese adulta, um processo pelo qual novos neurônios são gerados no cérebro adulto, principalmente na região do hipocampo, que está envolvida na aprendizagem e na memória.
Atualmente, a pesquisa nesse campo busca possíveis estratégias terapêuticas para o tratamento de doenças neurodegenerativas, além da possibilidade de recuperação de áreas lesionadas. Isso tem sido impulsionado por novas técnicas de imagem e análise de dados, permitindo a investigação das mudanças cerebrais em escalas cada vez menores e, por consequência, abordando uma maior precisão.
Algumas das descobertas mais recentes incluem a relação entre neuroplasticidade e envelhecimento: estudos têm demonstrado que a neuroplasticidade não se limita à infância e juventude, mas continua ocorrendo ao longo da vida adulta e na velhice. Intervenções específicas, como treinamento cognitivo e exercício físico, podem melhorar a plasticidade cerebral em adultos com mais idade e contribuir para a manutenção das funções cognitivas.
Além disso, pesquisas recentes, como a publicada pela Universidade de Lisboa em 2021, ‘Novas perspectivas da neuroplasticidade induzida por ECT no tratamento da depressão’, têm investigado a relação entre a neuroplasticidade e condições como depressão, ansiedade, esquizofrenia e transtorno do espectro autista (TEA). Alterações na plasticidade cerebral estão implicadas na fisiopatologia dessas condições, e a modulação da neuroplasticidade tem sido explorada como um alvo terapêutico promissor. A estimulação magnética transcraniana (EMT) e a estimulação elétrica transcraniana (ETC) são técnicas que podem modular a neuroplasticidade de maneira não invasiva, aplicando campos elétricos e/ou magnéticos no couro cabeludo. Estes métodos têm sido usados com sucesso para tratar de uma variedade de condições neurológicas e psiquiátricas, como depressão, ansiedade, dor crônica e recuperação após AVC.
A neuroplasticidade é uma área de pesquisa em rápido crescimento, com implicações significativas para a compreensão do cérebro e para o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas. O conhecimento atualizado sobre os mecanismos e as aplicações deste meio é crucial para os profissionais de saúde, educadores e cientistas, permitindo que eles compreendam e promovam a adaptabilidade e a resiliência do cérebro humano.
Estabeleceram-se, até então, cinco maneiras de ocorrência da neuroplasticidade. A recuperação da função axonal (axônios - estrutura celular responsável pela condução de impulsos, transmitindo informações entre neurônios), também chamada de plasticidade regenerativa. A plasticidade somática, que ocorre durante o período embrionário (e portanto, sem a ação de estímulos externos) para a formação do sistema nervoso e se relaciona com a plasticidade axônica, que ocorre nos seres humanos até os dois anos de idade e é responsável por formar novas ligações axônicas a partir das experiências adquiridas durante esse período. O aumento ou diminuição de extensão dos dendritos (estrutura celular ramificada que recebe os impulsos nervosos), chamado de plasticidade dendrítica. E, por fim, a neuroplasticidade sináptica, que fortalece ou enfraquece as conexões neurais (sinapses, que consistem na comunicação entre neurônios).
Em síntese, a neuroplasticidade é uma característica natural no ser humano, que ocorre a partir da aquisição de novas conexões em resposta ao ambiente e a novas experiências. O cérebro é um órgão extraordinário, capaz de se adaptar e se modificar, e é importante reconhecer essa habilidade para o tratamento e a implementação de terapias para pacientes com doenças neurodegenerativas e com lesões cerebrais - práticas que estão sendo muito implementadas na medicina moderna.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
1. Siddiqi, S.H., Schaper, F.L.W.V.J., Horn, A. et al. ‘Brain stimulation and brain lesions converge on common causal circuits in neuropsychiatric disease’. Nat Hum Behav 5, 1707–1716 (2021).
Disponível em: https://doi.org/10.1038/s41562-021-01161-1.
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Disponível em: https://iopscience.iop.org/article/10.1088/2634-4386/ac889c/meta.
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5. ‘Neuroplasticidade: O que é e como funciona’. IPEMED, 2022.
Disponível em: https://www.ipemed.com.br/blog/neuroplasticidade-o-que-e-e-como-funciona?utm_source=google&utm_medium=organic.
6. Créditos da imagem: https://mundoeducacao.uol.com.br/biologia/neuronios.
7. OLIVEIRA, Beatriz, Goulão, Universidade de Lisboa. ‘Novas perspectivas da neuroplasticidade induzida por ECT no tratamento da depressão’, 2021.
Disponível em: https://repositorio.ul.pt/handle/10451/51592.
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